domingo, 25 de junho de 2017

(POEMA) Teu Nome Inefável

Álvaro Hauschild

Teu nome eu respiro
nos ventos da aurora
e o fogo sem demora
me inflama o espírito.

Preciso dizer teu nome
às flores e macieiras do jardim,
mas não consigo dizer o que está em mim,
ó, esta maravilha incessante!

Permitiriam-me os anjos dizê-lo?
Não dizê-lo é doloroso
quando o nome amoroso
é da amada esquecida e dormente.

Morre o mundo por dormir
do amor o centro lácteo
que nutre o mundo ordenado,
ó, linda, dona de mim!

Desperta e olha nos olhos meus
vida pura e flamejante,
reflexo no teu amante
da vida e do amor que é teu!

Com teus olhos, me olhando,
então dizes o inefável,
o qual dizer é necessário:
teu nome, nós nos amando. [24/06/2017]

segunda-feira, 19 de junho de 2017

(POEMA) Deusine

Karl Wilhelm Diefenbach

Das lâmpadas odeio a luz,
amo a das velas e ainda mais a da lua,
amo ver nelas minha amada nua,
a quem estas luzes todas me conduzem.

Dos homens todos odeio o barulho,
amo o dos trovões e ainda mais o do silêncio,
amo sentir neles da minha amada a presença,
que me leva para casa, dentro do seu útero.

De toda a humanidade odeio a atividade,
amo o sossego e ainda mais o recolhimento,
amo inspirar neles da minha amada o alento,
minha vida pura, pura felicidade.

As vozes do mundo todas odeio,
amo a solidão e ainda mais o vazio,
amo deitar com minha amada no frio,
mergulhar meu espírit' em seus alvos seios.

Odeio com os homens à mesa comer,
amo o alimento do belo e sublime,
amo as delícias da minha amada Deusine,
pelas quais meu corpo deixo morrer. [19/06/2017]

quinta-feira, 15 de junho de 2017

(POEMA) Wie die Blumen Wieder Kamen

Konstantin Vasiliev
Auf dem Feld lauft ein Kind,
das ein Speer in die Hände hat
und stark zu den Wind
schreit es, um die Götte rufen an...

Da kommen die Götte alle heraus,
die das Kind eine Frage lassen:
“was suchst du unser Kind, so schwach und allein?
Du bist d' erst in tausende Jahren...”

“Ein Mädchen, das ich sehr viel liebe,
ist krank, und sie sagen, dass es sterben muss;
aber die Welt kann nicht ohne seinen Kuss.
Was kann ich tun?”, kommt es, um zu bitten.

“Uns'r liebes Kind”, sagen die Götte im Feld,
“das Mädchen, von dem du jetzt sprichst,
aus (dem) Tod das schreckliches Fleisch isst
und kein Medizin kann das Mädchen helfen.

Du kannst aber dein Leben gut nehmen:
währen du lebst, du darfst ein Schloss haben,
berühmt und ansehnlich sein von allen,
und niemal von die Krankenheit errecken”.

So antwortet das Kind: “ohne den Kuss,
den gibt das Mädchen, kann nicht der Fluss
in meinem Schloss schönen fliessen,
auch nicht die Vögelein fliegen,
die Sonne im Himmel mir scheinen...
ohne es gibt es nichts von meinen.

Geb mir den Tod, die fürchterliche Fleisch;
die Welt will in Ginnungagap zurück-sterben;
die Blumen blühen nicht in die Reich von Melkor;
Eros kann aber nicht ohne Psychê bleiben...

da mach, dass mir der Donner kommt...!”
Und mit seinem Speer starrt es auf sein Herz.
Das Blut durch die Welt macht, dass neue Meere
und neu' Erde für alle kommen.

Die erste Blumen blühen aus,
um die Sonnens Scheinen erreichen,
wo das Blut auch erste kam – Heiss!
– von einem Geist und Herz raus. [12-16/02/2017]

sexta-feira, 9 de junho de 2017

(POEMA) O Vale Remoto

Hans Dahl

No vale remoto, em meio a silentes
picos nevados cobertos por coníferas
que guardando verdejam secretos sonidos
ouvidos por todos e por flores e abelhas,
desce um riacho tilintando suave
percorrendo os campos de flores repletos,
e de musgos, e liquens, gramíneas completos,
e descendo do alto se perde e se vai...

Apolo do alto, iluminando secreto,
toca dourado no campo sozinha
fiel e farta macieira amorosa
dando frutos a mãe generosa
à bela Urânia, amor d'uma vida...

Urânia, Urânia, corpo celeste,
de estrelas longínquas é feita tua pele;
teus olhos brilhantes o riacho te deu
das águas frescas que o céu as bebeu;
longos, muito longos, finos e leves
são de ouro os fios tecidos,
no ar dançando e mostrando o caminho
a mim, que longe poderei me perder do paraíso,
da tua alma feitos, luminosa e cristalina...

Mas desce correndo também do castelo
para os campos, até nós, se misturando
e perdendo entre as flores mirantes,
e seus risinhos com o tilintar fresculento
do riacho se confundindo e fundindo,
desce ali graciosa nosso fruto
saído do ventre celestial, do tudo,
desce ali Ágata, a da beleza detentora
para quem mil olhos com mil lágrimas
suficientes não seriam na alegria redentora.

No alto do vale remoto, por Apolo desenhado
guincha sobrevoando um pássaro observado. [09/06/2017]